sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Sobre a questão de priorizar...


Que tarefa difícil é essa chamada priorizar?! Ainda mais quando nos deparamos com tantas opções; ou mesmo pela velocidade das decisões que precisamos tomar. A dificuldade se encontra exatamente no que não foi priorizado! É lógico que quando escolhemos uma coisa deixamos de escolher inúmeras outras. A angústia da perda está justamente aí! E isso se agrava quando nos damos conta de que priorizamos aquilo que não merecia ou que não era para ser priorizado. O fato é que prioridades e necessidades caminham juntas.  E as necessidades humanas são sempre complexas e idiossincráticas. Talvez aceitar que nem sempre acertamos, ou que não podemos ter tudo, ou mesmo que temos a capacidade de mudar o curso no meio do caminho –  ainda que nossos passos hesitem em abrir uma nova trilha –, seja uma alameda um pouco menos espinhosa... Ou não...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ressignificar para viver


A vida é um contínuo exercício de ressignificar... Dar sentido ao que acontece (e do que não acontece!): eis uma coisa que nos persegue desde tempos pré-históricos. É óbvio que a preocupação do homem do paleolítico se baseava muito mais em questões pragmáticas. Na antiguidade, do mito à razão, percebemos que a sede de explicar tanto fenômenos naturais quanto sociais e políticos foi tomando proporções maiores. Atualmente, pós-Marx, pós-Freud, pós-Foucault, satisfeitas nossas necessidades de sobrevivência, presenciamos um mal-estar provocado pela falta de sentido de muitas situações ou mesmo de muitos sentimentos, embora se tenha teorizado exaustivamente e buscado respostas para tantas questões. Talvez, a crise da razão esteja justamente aí: a ditadura do sentido. Por que tudo tem que ter sentido? Por que temos que entender tudo? Como se tivéssemos tal competência?! Será que esse desejo exacerbado de querer tudo explicar não tem causado um vazio ainda maior? O que fazer com aquilo que não conseguimos dar significado? E quando isso é um sentimento? Freud me diria, com certeza, que teria uma explicação no seu arcabouço teórico-metodológico-psicossexual!!!


E sobre sentimentos e desilusões: que tarefa difícil é ressignificar... Mudar o curso do que está posto... Rearrumar, reacomodar, refazer... Dói, mas é preciso! É preciso, mas dói! Só se aprende a ressignificar ressignificando... feliz ou infelizmente! Às vezes, dar sentido é tão-somente aceitar... que perdeu... aquilo... ou aquele/a...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O sofrimento e a questão do que fazer

Todos nós temos dores, sofrimentos! A questão não é se sofremos ou não; mas o que temos feito com essas dores e sofrimentos. Estamos deixando que eles determinem a nossa vida? Entramos nos nossos quartos e nos fechamos junto com eles?
Hoje conheci uma senhora e aprendi muito ouvindo suas palavras, simples, porém carregadas de significado. Dona Cleide, com seus 60 anos, é uma senhora que vive só e cuida de cinco cachorros; quatro deles ela encontrou na rua. Dizia ela: “se eu não me ocupar com meus bichos, eu vou ficar fazendo o que em casa? O dia todinho na frente da televisão? Eu vou entrar em depressão...” Quanta sapiência! Dona Cleide aprendeu com a vida! E com que amor ela cuida dos seus animais! Contou que uma vez sua cadelinha estava muito mal e, mesmo tendo pavor, teve que levá-la numa moto; gastou cinquenta reais no aluguel do famigerado transporte, o que é muito dinheiro para uma pessoa que ganha um salário. Fiquei impressionado com a alegria com que ela contava como conseguiu salvar sua cachorrinha; qual carinho no cuidado com a alimentação... Na verdade, Dona Cleide encontrou uma ótima maneira de lidar com o sofrimento de estar só!
Mês passado um amigo meu sofreu um grave acidente. Ele me ligou do hospital, com fala ofegante. Tinha fraturado a vértebra e a costela, consequentemente perfurando o pulmão. O mais surpreendente era o que dizia no telefone:  “e aê irmão, como é que tu tá? Conta as novidades? Saudade de tu...” Puts, o cara todo quebrado, tomando sedativo o tempo todo por não suportar a dor, e perguntando como era que eu estava?! Ele, sem saber, ensinou-me: o primeiro passo, ou o principal, para a cura das nossas dores é nos abstermos de olhar e/ou de dar importância para elas! Parar de ficar olhando para nossos umbigos e perceber que existe um mundo girando ao nosso redor! Preocupar-se com as dores do/a próximo/a ameniza/cura as nossas!
Às vezes, não nos permitimos acreditar nas possibilidades, nas soluções possíveis; não sei, talvez por comodismo mesmo... É preciso que sejamos senhores dos nossos problemas e não o contrário. Conheço muita gente com quadro depressivo por ter deixado que os sofrimentos determinassem as suas vidas. Não é o sofrimento em si a causa da depressão e da letargia emocional; mas como lidamos com ele. Por que não expurgar aquela mágoa de outrora? Por que não perdoar? Por que não buscar ocupações saudáveis as quais ajudem nesse processo? Por que não pensar mais no/a outro/a? Talvez devêssemos seguir o exemplo da personagem do Pálpebras de Neblina, de Caio Fernando Abreu: “Um amigo me chamou pra cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso. E fui.”
PS: aprofundarei essas ideias posteriormente!


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O amor nos torna humanos


Tenho vivido, ao longo dessas últimas semanas, situações que têm me levado a refletir sobre minha vida, sobre o amor, sobre felicidade. Muito mais do que dizer o que devemos ou não fazer, minhas palavras vão no sentido de pensarmos sobre nós mesmos e sobre nossas atitudes. Eis algumas questões que tenho levantado: já que o ser humano é naturalmente um ser social, por que a cada dia que passa nos distanciamos progressivamente uns dos outros? Por que deixamos, muitas vezes, que os nossos valores estejam acima do amor ao/à próximo/a? Por que alimentar tantos sentimentos que não nos fazem bem e não fazem bem ao/à outro/a? Por que não nos esvaziarmos de conceitos e preconceitos em favor do amor e da felicidade mútua?
“A delicadeza com que tratamos qualquer pessoa sensibiliza os nossos sentimentos internos e nos aproxima de nossa essência”, segundo Gabriel Chalita. E como temos nos afastado da nossa essência! A gentileza, a presteza, a atenção, são atributos que têm sido esquecidos. Tenho certeza de que todos nós gostamos que sejam gentis conosco, que sejam prestativos, que sejam atenciosos; e por que não ser assim também com os outros?! Como é importante um “obrigado” ou um “bom dia” regado a um sorriso! Como nos faz humanos! Como nos faz felizes! Não existe felicidade sem amor; sobretudo, o amor que é ofertado! 
Talvez pensemos: mas eu não sou obrigado/a a amar ninguém! Talvez esteja certo/a! Entretanto, isso não nos dá o direito de rejeitar o próximo! Na maioria das vezes, imaturamente, colocamos os defeitos dos outros acima de suas qualidades. “No momento em que não suporto o defeito do outro, o que verdadeiramente rejeito é a minha imagem nele refletida” (Pe. Fábio). Como eu posso não aceitar as fraquezas alheias se eu mesmo possuo inúmeras imperfeições?
Faço uma citação do Padre Fábio em seu livro Cartas entre amigos:
“[...] As pessoas estão cada vez mais temerosas de se mostrarem frágeis. Por isso simulam uma coragem que não possuem. Revestem-se de armaduras pesadas na tentativa de sobreviver  aos novos holocaustos. ‘Quanto maior a armadura, mais frágil o ser que a habita!’
[...] Percebo em nossos dias uma intolerância cada vez maior com os limites humanos. Temos medo das imperfeições. E por isso evitamos o outro no momento de sua fragilidade. Corremos o risco de cultivar pessoas e realidades a partir de expectativas, e não de possibilidades. Queremos o outro, mas esse querer fica condicionado. Queremos até o momento em que nossas projeções não sejam desarticuladas. Queremos, mas desde que absolutamente nada contrarie nosso querer.”
Aceitar que somos fracos e que precisamos lidar com as fraquezas do outro, nos torna mais humanos, nos aproxima da nossa essência! Libertemos-nos dessas armaduras que insistimos em usar; a armadura do egoísmo, da falta de compreensão, da falta de ternura. “A falta de amor é a maior de todas as pobrezas” (Madre Teresa de Calcutá)
É “fácil” amar os nossos pais, os nossos filhos, os nossos irmãos. E, às vezes, nem é tão fácil assim! E quando os pais não aceitam as decisões dos filhos? E quando os filhos não trilham os caminhos que os pais sempre sonharam para eles? E quando os irmãos só se lembram de você na hora de pedir dinheiro emprestado? E quando o próximo já não é um parente, mas um/a vizinho/a ou um/a colega de trabalho? Aí é que não temos obrigação mesmo, não é?
Deixo o conselho de duas personalidades. O primeiro, de um dos maiores filósofos da atualidade, o francês Comte-Sponville; o segundo, de uma das pessoas as quais passaram pela Terra que, de fato, mostrou o que é ser humano, o que é amar: Madre Teresa de Calcutá.
O primeiro:                                      
“Quando existe amor, ele basta: já não precisamos de moral, já não precisamos nos preocupar com nossos deveres. Porém, na maioria das vezes, não existe amor; é aí que intervém a moral, que nos manda agir como se amássemos. [...] O melhor é amar e dar por amor. Mas, quando não existe amor, diz a moral, resta dar aos que você não ama. É aí que encontramos a generosidade, virtude moral, virtude da doação. Quando você não é capaz de dar por amor, aja como se amasse: dê aos que você não ama! Se você não ama, pelos menos faça como se amasse: pelo menos seja generoso!”
O segundo:
“Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas. Perdoe-as assim mesmo! Se você é gentil, podem acusá-lo de egoísta, interesseiro. Seja gentil assim mesmo! Se você é um vencedor terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros. Vença assim mesmo! Se você é bondoso e franco poderão enganá-lo. Seja bondoso e franco assim mesmo! O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para a outra. Construa assim mesmo! Se você tem paz e é feliz, poderão sentir inveja. Seja feliz assim mesmo! O bem que você faz hoje, poderão esquecê-lo amanhã. Faça o bem assim mesmo! Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante. Dê o melhor de você assim mesmo! Veja você que, no final das contas é entre você e Deus. Nunca foi entre você e os outros!”

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Avaliando as decisões

Como é difícil tomar decisões! Quando se escolhe uma coisa se deixa de escolher outras centenas! É difícil porque não queremos perder! Queremos ter tudo!
Gosto muito desta frase de Bertrand Russel: "Não possuir algumas das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade". Mas, aqui pra nós, não seria perfeito se tivéssemos todas?! Aí lembro de um dos melhores livros que eu já li: "A felicidade desesperadamente", de Sponville. Nele, o autor defende a tese de que a felicidade passa pelo fim dos "ses"! Se eu tivesse um bom emprego, se eu tivesse um/a companheiro/a que me amasse de verdade, se eu tivesse amigos fieis, se eu tivesse uma familia que me entendesse, se tu tivesse um carro do ano, se eu fosse mais atraente, se eu pudesse voltar atrás em algumas decisões, etc etc etc. Parece que não cansamos de impor condições para saborear o "ser (ou estar) feliz". Caimos num ciclo vicioso. Quando temos uma casa queremos um carro; quando temos um bom emprego enjoamos a rotina; quando encontramos alguém que seja realmente capaz de nos amar, (quase sempre) o sentimento não é recíproco. Longe de mim levantar a bandeira do determinismo, mas o fato é que quando satisfeito um desejo, surge outro, como num passe de mágica. Sponville afirma que devemos desejar o que estamos vivendo agora! Nesse sentido, felicidade e aceitação estão no mesmo plano. Aceitar o que se tem e o que não se tem!
Voltando às decisões, é complexo administrar o sentimento de angústia provocado pela escolha! A angústia das perdas e do medo de ter errado (por mais maturidade que se tenha!). Aceitar as perdas; reconquistar o que pode ser reconquistado; suportar as agruras pós-decisão... Estar convicto de uma decisão não basta (aliás, convicto para quem? Para as pessoas?). É preciso avaliar os frutos dela! Se saudáveis, firmeza e perseverança; se não, uma poda ou mesmo extirpação total!

domingo, 27 de novembro de 2011

O poder do (re-)encontro

Ontem pude reencontrar muitos/as amigos/as do tempo em que vivi o catolicismo mais de perto. Betinho, Méri, Ana Célia, Karlystene, Walken. Cantamos e tocamos juntos por muito tempo. Convíviamos quase que diariamente, entre ensaios, missas, grupos, missões, formações, lazer, etc. Havia uma comunhão de vida; havia uma comum união. E como isso faz falta! A convivência desinteressada, a partilha de vida, a ajuda mútua. Embora tenhamos tomado rumos diversos, tudo o que passamos juntos ficou marcado. E não podemos negar que nos momentos marcantes das nossas vidas estavam presentes pessoas, que também se tornaram marcantes.

Existe um poder oculto no (re-)encontro entre os amigos/as verdadeiros/as. Uma energia que emana naturalmente e nos envolve. O sorriso aparece, as lágrimas brotam, o espírito se extasia. O tempo para, se eterniza...

Depois da celebração ficamos na Capela cantando... O sentimento comum era o de inebriamento. O de permanecer ali, naquele espaço, simples e ao mesmo tempo fabuloso, repleto de significado.

A única coisa que pensava era como aquele instante e aquelas pessoas contribuíam para dar sentido à minha existência!

Talvez Marx não tenha pensado nisso, mas a religião pode ser um instrumento fundamental nesses (re-)encontros...

"Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro.
Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé." (Eclesiastes 6, 14-15)

O porquê do blog

Olá, galera. Resolvi criar esse blog para partilhar histórias (reis e/ou surreais), acontecimentos, pensamentos, ideias, alucinações,... Não tenho o intuito de ser um guru, mas simplesmente mostrar minhas idiossincrasias...